sábado, 13 de fevereiro de 2010

CHANCES NA VIDA

Estava reparando hoje numa família brasileira quase invisível.
Uma mãe que devia ter uns 30, 35 anos no máximo, negra e dividindo as duas quentinhas de padaria com seus 6 filhos(!)
Uma família de rua, muito embora as crianças estivessem vestidas com um certo aprumo, acima da média daquela condição. As idades das crianças iam de 4 a 12 anos, provavelmente.
Comiam e falavam alto, como qualquer família numerosa, só que na sarjeta.
Ao sair, deixaram os rastros do seu almoço no exato lugar onde fizeram sua refeição. Restos e lixo.
Fiquei meio incomodada com aquilo.
Mas imediatamente pensei: Quem seria a figura adulta que indicaria aos pequenos o lugar de jogar o lixo?
Como essa figura materna que vive nas ruas e que provavelmente não teve acesso decente à qualquer tipo de educação, pode ter a consciência de que este lixo deixado por ela e os seus, estarão na próxima chuva, entupindo os bueiros e causando desastres e complicando a vida de todos, mas mais ainda, daquela população mais carente, que é ela mesma?
Não há saída pra este raciocínio dentro deste universo. Infelizmente.
O que me levou ainda mais longe, em pensar que isso se aplica a tudo na vida dessas crianças.
A falta de educação de uma população é fator predominante pro subdesenvolvimento.
Aquelas crianças, “se viram” como podem, comem o que aparece, e por mais que vão a escola, certamente recebem nas ruas o exemplo daquela mãe, ou até muito pior.
A vida aos trancos não muda, as perspectivas não melhoram com o passar dos anos, ao contrário.
As dificuldades só crescem, como o número de irmãos e, as necessidades e as idades.
Com a chegada da adolescência os desejos aumentam, e com as possibilidades sempre reduzidas e os hormônios nas alturas, como controlar as urgências do ter e possuir?
Sem um exemplo adulto e com o convívio das ruas e seus apelos, como não sucumbir aos pequenos delitos?
Como fugir do padrão, como deixar de “se virar” pra viver?
Se o tráfico local oferecer ganhos imediatos, como aquela criança terá construído dentro de si, estrutura pra evitar este perigo?
Não há saída pra esta criança da rua de hoje.
Num golpe de sorte, ela poderá ser feita de material heróico e se sobressair a todo e qualquer infortúnio.
Também num golpe de sorte, pode encontrar um tutor na vida que mostre o caminho possível e que escape das drogas e do crime.
Mas as chances -quando olhadas sob a ótica realista, são ínfimas. O curso natural daquele filho de mãe que ainda vai parir muitos outros irmãos por aí e levá-los pra fazer a vida na rua, esta meio decidido.
Injustamente roubado da sua infância, ele seguirá fazendo da vida o que couber na sua curta visão, e com os instintos aflorados pela insensibilidade da rua, nos resta só rezar para que o abuso sofrido não se transforme em ódio visceral capaz de crimes hediondos ou barbáries.

Um comentário:

Mi Garcia disse...

Anjoooo....Q profundo isso...
É uma triste realidade certamente...
Ainda sonho em ter os poderes exatos p mudar uma só vida que se encontre nesse caminho...
Ainda sonho poder ajudar pelo menos uma vida...
Se assim fizer...tenho a certeza que esse pekeno ser será um pokinhu mais feliz...